A Casa da Hera pertenceu a Joaquim José Teixeira Leite (1812-1872), um dos mais importantes comissários de café da região. Por volta de 1840, a casa passou a ser propriedade dos Teixeira Leite e lá passaram a viver Joaquim José e sua esposa, Ana Esméria Pontes França. Ele foi um destacado “capitalista do café” e acumulou grande fortuna. Era filho de Francisco José Teixeira, o primeiro Barão de Itambé, e Francisca Bernardina do Sacramento Leite Ribeiro; teve como irmão o Barão de Vassouras, Francisco José Teixeira Leite. Foi bacharel em Direito e um erudito; foi presidente da Câmara de Vassouras por 11 anos e vice-presidente da província do Rio de Janeiro. Seus negócios permitiram que acumulasse grande fortuna. A forma como optou por ser retratado no quadro presente no salão comercial da casa e a variedade e amplitude de temas de sua biblioteca revelam ter sido ele um homem letrado. Ao longo de sua vida, envolveu-se com os projetos para construção da Estrada de Ferro D. Pedro II (futura Central do Brasil) e defendeu a implantação de núcleos de colonos na região de Vassouras.
Ana Esméria Teixeira Leite (1827-1871) era filha de Laureano Corrêa e Castro, Barão de Campo Belo, e Eufrásia Joaquina do Sacramento Andrade; ela, portanto, pertencia a uma das principais famílias de cafeicultores da região. Após o casamento, a residência da família se converteu em um dos principais palcos por onde transitavam homens e mulheres ilustres da época. A casa foi cenário de festas e saraus, um local onde se fazia comércio e se discutia finanças e política.
Ali nasceram as duas filhas do casal, Francisca Bernardina (1845-1899) e Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930). Elas viveram na casa até 1873, quando, após a morte dos pais, a bordo de um vapor, foram para a França e passaram a residir em Paris. Eufrásia é uma das figuras mais conhecidas da história de Vassouras. Quando vão à Casa da Hera, muitos visitantes buscam encontrar a imagem de Eufrásia. Poucos sabem, no entanto, que seu desejo ao doar a residência e seus pertences era preservar, não sua própria memória, mas a de seu pai, Joaquim José Teixeira Leite. Ao longo de sua vida, mesmo quando já não residia no Brasil, ela procurou manter o local como havia sido na época em que seus pais ali viviam, já que em diversas cartas ela afirmou que “não se mexa na casa de meus pais”. Por essa razão, o que o visitante encontra na Casa é a memória daqueles que ali habitaram no século XIX e todo o luxo que puderam desfrutar graças à prosperidade do café. No entanto, isso não significa que se deva esquecer a imagem de Eufrásia, pois foi graças a ela que esse patrimônio chegou até nós.
Após a morte dos pais, ela viajou para a França, entrou para o mundo dos negócios e multiplicou sua herança, tornando-se acionista de empresas de diferentes países. Elegante, independente, inteligente e voluntariosa, Eufrásia Teixeira Leite frequentou a aristocracia francesa, ganhou admiradores e se relacionou durante alguns anos com o político pernambucano e abolicionista, Joaquim Nabuco. Francisca faleceu na França em 1899. Eufrásia só voltou a frequentar a Chácara da Hera em períodos esporádicos, já na década de 20. Em 1930, aos 80 anos, morreu em seu apartamento no Rio, sem nunca ter se casado e sem herdeiros. Suas cartas revelam um espírito inconformista que a levou a uma vida fora dos padrões de sua época.
“É demais a opinião de minha gente, que não compreende como eu não sou a mais feliz das criaturas; parece que para isso só me falta ser como todo mundo”. ETL